ASSEMBLEIA LEGISLATIVA MATO GROSSO: Campanha “Atitude”.

CORONAVÍRUS:FAMÍLIAS FAZEM CORRIDA A REMÉDIO QUE CUSTA ATÉ R$ 40 MIL

Esperança em salvar entes queridos faz famílias buscarem todas as alternativas para compra de medicamento com alto custo

12 Abril 2021

A utilização do medicamento tocilizumabe para o tratamento de pacientes com a Covid-19 têm levado famílias de Rondonópolis a buscarem de todas as maneiras custear a compra do remédio e apostarem suas esperanças no tratamento para salvar a vida de entes queridos
. As vaquinhas online para arrecadar fundos para a compra do medicamento têm se tornado cada vez mais comuns na cidade.
Porém, apesar de apresentar alguns resultados positivos apontados em estudos realizados em vários países no tratamento de pacientes da Covid-19 em estado grave, médicos alertam que o tocilizumabe não é “cura” para a doença e nem mesmo pode ser utilizado em todos os pacientes. Eles pedem cautela.
A BUSCA
Além das limitações na utilização do tocilizumabe, ele também é um medicamento de alto custo e o tratamento para um paciente em estado grave em UTI pode chegar a custar até R$ 40 mil atualmente. Mas a esperança das famílias em salvar a vida de um ente querido faz com que muitos busquem levantar recursos para adquirir o medicamento de todas as formas. Se desfazendo de bens, arrecadando dinheiro entre familiares e amigos e na realização de vaquinhas online.
Uma dessas famílias de Rondonópolis buscava no início desta semana recursos por meio de uma vaquinha. Nas redes sociais, a filha pedia auxílio para comprar o medicamento para “salvar a vida da mãe”.
Informava que seriam necessários R$ 36 mil para a compra do medicamento e que faltava ser arrecadado R$ 11 mil. Da mesma forma, várias outras famílias da cidade têm feito o mesmo.
Acontece que, além do alto custo, o tocilizumabe não é atualmente fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e nem por planos de saúde, apesar de ter sido autorizado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da Covid-19.
O aumento de utilização do medicamento ocasionou ainda elevação no preço e a Roche, farmacêutica que produz o tocilizumabe, chegou emitir nota no último dia 4 de abril informando que o medicamento não está disponível no momento no Brasil.
A farmacêutica informou ainda que busca aumentar a produção, mas não estabelece datas para o reabastecimento no país.
Há ainda relatos de médicos que atuam em hospitais de Rondonópolis de que familiares chegam ao hospital com o medicamento já comprado e pedem para que o paciente seja medicado com ele. Depositam a possibilidade de cura em um tratamento que não pode ser utilizado para todas as pessoas e pode não ser a indicação para o familiar que luta contra a doença.
Diante dessa situação, médicos pedem para que as pessoas sigam as orientações médicas e não acreditem nas inúmeras informações difundidas sobre medicamentos para a Covid-19. Eles ressaltam que a doença não tem um medicamento que a cure até o momento e que os tratamentos devem ser adotados por critérios médicos.
A médica intensivista Daniele Marques, que desde novembro de 2020 utiliza tratamento com o tocilizumabe, reforça que passou por treinamento para o estudo realizado na Santa Casa de Rondonópolis, onde se implantou o tratamento com o medicamento na cidade.
“Quando a Santa Casa iniciou a utilização do tocilizumabe já existia um estudo robusto sobre seu uso para pacientes com Covid-19 e, mesmo assim, fui tutelada por pesquisadores e médicos para a realização do tratamento”,explica e complementa que, com o treinamento e seguindo os critérios necessários, foi possível verificar entre os pacientes tratados na UTI da Santa Casa que em média 3 em cada 10 pacientes que fizeram tratamento com o tocilizumabe tiveram benefícios.
“Mesmo assim é preciso ressaltar que a amostra era muita pequena para que se tenha conclusões mais definitivas”.
Para ela, é fundamental que não se forneça um tratamento que pode trazer malefícios aos pacientes.
“Assim como outros medicamentos, o tocilizumabe deve ser utilizado com muito critério. Um exemplo do que não pode ocorrer é o que aconteceu com a hidroxicloroquina, que inclusive, ocasionou a morte de pacientes por problemas no fígado. Outro exemplo é a ivermectina, que inicialmente apresentou resultados positivos em testes in vitro contra o coronavírus, mas que não teve resultados positivos em sua utilização entre os pacientes”, finalizou.
Santa Casa de Rondonópolis, onde se implantou o tratamento com o medicamento na cidade, participou de estudo em parceria com a Universidade de São Paulo – (Foto – Arquivo)

Tocilizumabe: Medicamento tem resultados positivos, mas não é cura

Médica alerta que não se trata de um medicamento indicado para o tratamento de todos os pacientes e que é preciso seguir critérios para a sua utilização
Antes de tudo, vale explicar que o tocilizumabe é um medicamento anti-inflamatório moderno que é utilizado no tratamento de artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias e, desde abril de 2020, vem sendo utilizado por médicos no tratamento de pacientes da Covid-19 em diversas partes do mundo.
Um estudo divulgado em 11 de fevereiro de 2021 pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, denominado “Recovery”, aponta que ele pode reduzir a mortalidade nos quadros mais críticos da doença e contribuir para evitar que o paciente necessite de ventilação mecânica.
O “Recovery” analisou 4 mil pessoas internadas em estado grave pela Covid-19 de abril de 2020 a janeiro de 2021. Destes, 2.022 pacientes receberam o tocilizumabe e 2.094 receberam tratamento convencional sem a utilização do medicamento. Segundo o estudo, foi observado que 33% dos voluntários do grupo com tratamento convencional morreram, enquanto que entre no grupo que utilizou o tocilizumabe, 29% morreram.
Ou seja, a cada 25 pessoas utilizando o tocilizumabe, nesse cenário, uma vida a mais poderia ser salva.
Em Rondonópolis, a Santa Casa de Misericórdia integrou um estudo em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) para a utilização do medicamento em pacientes em estado grave e internados em leitos de terapia intensiva e, segundo a médica intensivista Daniele Marques, chefe da UTI da Santa Casa que conduziu o estudo no hospital, o tocilizumabe pode ser considerado hoje um medicamento bem indicado e com boa resposta no tratamento de pacientes em estado grave da Covid-19.
Contudo, alerta que não é um remédio indicado para o tratamento de todos os pacientes e que é preciso seguir critérios para a sua utilização e indicação, que a equipe médica precisa de treinamento para administrar o tratamento e que o medicamento precisa ser usado em combinação com outros remédios, como a dexametasona, e outras terapias.
Mesmo não sendo um medicamento indicado para pacientes com quadros leves ou moderados da Covid-19 e não poder ser prescrito a pacientes com quadros infecciosos de outras doenças associadas, infecções por bactérias entre outros, muitas famílias têm depositado a esperança de recuperação no medicamento.
“O tocilizumabe é indicado para situações bem limitadas, deve ser usado apenas em ambiente hospitalar e supervisionado. O tratamento com esse medicamento deve ser iniciado para pacientes no início da fase inflamatória da doença e em até 24 horas após a intubação.
Quando o tratamento é feito da forma indicada, seguindo todos os critérios necessários e após análise individual de cada paciente, a resposta é positiva, diminuindo a mortalidade e necessidade de utilização de ventilação mecânica, mas não pode ser tratado como a solução para todos os pacientes”, explica Daniele Marques.
A Associação de Especialistas Médicos e outros profissionais de Rondonópolis (Aempro) também faz alerta sobre o uso do tocilizumabe.
O médico Pedro Maggi reforça qu,e para que o tratamento seja utilizado, é preciso seguir sempre os critérios médicos com análise individualizada de cada paciente. “É importante que as pessoas saibam que não é a “cura” da Covid e não pode ser utilizado por pacientes em estados leves e moderados da doença.
É um medicamento indicado para pacientes graves em UTI e a decisão sobre o uso ou não do medicamento deve ser exclusivamente por critério médico”, destaca.

Diretor da Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder), Argemiro Ferreira de Souza, foi tratado com o tocilizumabe na Santa Casa: “Sei que as minhas chances eram mínimas e, mesmo assim, foi possível” – (Foto – Arquivo)

Pacientes se recuperam com o tratamento em Rondonópolis

Com tratamento realizado pelo SUS, o diretor da Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder), Argemiro Ferreira de Souza, foi tratado com o tocilizumabe na Santa Casa.
Hoje, há 49 dias fora do hospital e recuperado da doença, Argemiro conta que, no seu caso, o medicamento foi primordial.
“Sei que as minhas chances eram mínimas e, mesmo assim, foi possível”, diz.
Argemiro descobriu a Covid-19 e, nos primeiros oito dias se tratou em casa, quando o quadro começou a se agravar. Ele foi primeiramente foi internado para acompanhamento médico na enfermaria, onde ficou três dias e teve que ser encaminhado para a UTI.
Foi quando a equipe médica informou que Argemiro iria ser internado no tratamento intensivo que teve início a luta de sua esposa, Sandra Cardozo Matos de Souza.
Foi ela quem foi informada sobre a possibilidade de tratamento com o tocilizumabe e, em conversa com a equipe médica, foi orientada que Argemiro poderia fazer uso do medicamento, mesmo que
com chances pequenas de sucesso.
“O problema era que o remédio não estava disponível para compra em Rondonópolis, mas durante a busca, foi possível comprar com uma família daqui que havia adquirido o medicamento, mas a paciente não pode usar, pois acabou falecendo antes.
Na época, pagamos um valor menor do que hoje. Cerca de R$ 1.900 por dose. Sabemos que hoje o valor está bem maior”, relata Sandra.
Argemiro inciou o tratamento e passou 15 dias na UTI, chegou a ter mais de 90% dos pulmões comprometidos pela doença, mas não precisou ser intubado e se recuperou.
Quando saiu da UTI, ainda permaneceu mais três dias no hospital na enfermaria e então pode voltar para casa. “Após 13 dias, consegui sair de casa superando todas as expectativas médicas”, explica.
Ele foi acompanhado pela médica intensivista Daniele Marques, a quem Sandra agradece pela recuperação do marido.
“A dr. Daniele e toda a equipe da Santa Casa foi incrível”, diz e completa que o SUS precisa fornecer o tocilizumabe, pois é preciso salvar todas as vidas possíveis.
“Sabemos que o percentual dos pacientes que fazem o tratamento com o tocilizumabe e se recuperam ainda é pequeno, 3 para cada 10, e no meu caso, por ser hipertenso, era ainda menor a possibilidade. Menor que 1. Mas foi possível”, argumenta Argemiro que agradece a Deus pela recuperação.
Sandra conta ainda que até hoje ajuda em vaquinhas online famílias que precisam adquirir o medicamento.
“Penso que é preciso tentar. Quando decidimos pelo tratamento, eu pensei: se não resolver, mal não fará. Então tentamos. E deu certo”. (A tribuna)
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