GOVERNO DO MATO GROSSO

Falso pastor tenta “perdão”, mas TJ mantém pena por estupros em série

Falso missionário submetia as mulheres ao que chamava de “unção com azeite” para curá-las de problemas físicos e emocionais

03 março 2020

Por unanimidade, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal mantiveram a pena de 10 anos de prisão para um falso pastor, que se hospedava na casa de fiéis e estuprava meninas e mulheres. Em dois anos, entre 2017 e 2019, ele fez ao menos cinco vítimas, uma delas de 11 anos. O homem foi preso no ano passado, quando tinha 74 anos.

Consta no processo, que o idoso se apresentava como missionário e ganhava a confiança de famílias em Mato Grosso do Sul. Depois de algum tempo, ele submetia as mulheres ao que chamava de “unção com azeite” para curá-las de problemas físicos e emocionais. Na prática, porém, o falso pastor massageava seios e genitais das vítimas com óleo. Uma delas foi estuprada cinco vezes.

A primeira vítima foi uma adolescente para quem, em 2017, o réu propôs “orações” e passou a espalhar um óleo na barriga, testa, pernas, pescoço. Consta no processo que a garota que se recusou a abrir o short, mas o homem insistiu, porque “precisava ungir a parte interna de seu órgão sexual”. Conforme o relato da vítima, caso contrário, nenhum homem olharia para ela.

Em outra oportunidade, por telefone, o “missionário” disse à adolescente que quando voltasse a Miranda – cidade a 201 km de Campo Grande – teria de fazer sexo com ela por duas vezes para que a mesma fosse bem-sucedida e o “anjo da guarda não a abandonasse”.

Outros dois casos foram em 2018. Com a desculpa de fazer oração para “purificar” um “mal” provocado pelo ex-marido “na vagina” de uma das vítimas, o “pastor” convidou uma jovem para a “unção”. Na ocasião, ele passou óleo nos seios, barriga e genital da vítima. Foi quando a moça estranhou a situação e o denunciou.

Também naquele ano, uma viúva com suspeita de doença grave foi alvo. A mulher relatou que foi convidada para um encontro de orações, mas que quando chegou à casa do falso missionário, não havia ninguém. Ele pediu então que ela se deitasse e tirasse as roupas para que passasse óleo ungido que a curaria do problema no pulmão.

A viúva recusou-se a ter relação sexual com o idoso e então, ele disse que “daria vida boa e a tiraria do sofrimento”. A mulher conta que, contudo, ficou tão constrangida que só deve coragem de denunciá-lo depois que ficou sabendo da prisão do “pastor”, em março do ano passado.

Narram os autos ainda o estupro de uma menina de 11 anos, em janeiro de 2019. O homem passou o tal “óleo ungido” pelo corpo da criança para “abençoa-la”.

A farsa foi descoberta depois que entre 22 a 27 de março do ano passado, de acordo com o processo, o falso missionário hospedou-se na casa de mulher com quem consumou relação sexual por cinco vezes, sob a justificativa de curar “maldições” que foram “depositadas” em seu útero pelo ex-marido, por meio do uso de uma “pomada maligna”.

A defesa do homem pediu a absolvição por três denúncias, mas teve o recurso negado. Para o juiz Lúcio Raimundo da Silveira, relator na apelação, “todas as vítimas receberam propostas semelhantes, pautadas no mesmo elemento ludibriador: a fé intensa que ostentavam”. “A repetição das propostas do mesmo teor para mulheres distintas é evidência de que, por vezes, a fé conduzia as vítimas a malfadada benção via óleo, no que se caracteriza a tentativa do crime de fraude sexual”, completou. A sentença foi mantida.

O processo tramita em segredo de Justiça. A decisão da 1ª Câmara Criminal foi divulgada pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que omitiu o nome do réu e advogados do mesmo. As identidades das vítimas foram preservadas.

 

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