PACIENTE DE MÉDICA ACUSADA DE NEGLIGÊNCIA FICOU CEGA POR 1 MÊS:”MEDO”(IMAGENS FORTES)
Uma das 17 pacientes da médica Milena Carvalho relatou o terror que vive até hoje, 7 meses após o procedimento
27 Novembro 2021
Manoela foi uma das vítimas ouvidas pelo Portal, que revelou o caso nesta semana. As denúncias são investigadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A cirurgia de Manoela ocorreu em 15 de abril deste ano. O objetivo dela era colocar prótese e fazer uma lipoescultura no corpo inteiro. Após um longo processo de exames pré-operatórios, chegou o grande dia, tão esperado pela estudante de medicina. Onze dias após o procedimento, ainda sob medicamentos, a paciente viveu o pior dia de sua vida: ela acordou, abriu os olhos e não enxergou absolutamente nada em sua frente.
Os efeitos começaram após o medicamento anticoagulante acabar e a paciente ligar para a Dra. Milena que lhe receitou o uso de dipirona. A paciente tomou o medicamento e resolveu tirar um cochilo. Quando acordou, na companhia de familiares, notou que havia perdido a visão. “Fui esquecendo as coisas, perdendo os sentidos”, relembra.
Apavorada, a família de Manoela correu com ela para o hospital e, lá, foi explicada toda a situação aos médicos de plantão. A estudante apresentava sinais de “trombose aguda dos seios transverso e sigmóide e da veia jugular interna à direita, associado a sinais de infarto venoso hemorrágico do lobo temporal direito”. Com o diagnóstico em mãos, ela ligou para a médica que comandou a mamoplastia e lipoescultura. “Ela me disse: ‘Você resolve com o seu neurologista e vê como vai fazer’”, teria dito a especialista.
Responsabilizando o anestesista que participou do procedimento cirúrgico, Milena teria, então, encaminhado o contato do profissional para Manoela, aconselhando que ela o procurasse diretamente. “Foi desesperador”, disse a estudante.
Após uma longa investigação, que contou com diversas consultas e exames com neurologistas, Manoela começou a recuperar a visão gradativamente. “Foi um mês mais ou menos. [A visão] Foi voltando gradativamente”, relembra.
Diante de tantas complicações, Manoela solicitou acesso aos prontuários médicos e descobriu que teria precisado de 21 frascos de adrenalina durante a cirurgia, porém, sem detalhamento do porquê. Assustada com a falta de transparência dos registros médicos, a estudante resolveu registrar boletim de ocorrência na PCDF, que investiga o caso.
Sete meses após a cirurgia, Manoela ainda trata a perda parcial dos movimentos do braço e da perna direitos, além de uma paralisia em parte do rosto. A mulher passa por consultas regulares com neurologistas, terapeutas e precisa de incontáveis sessões de fisioterapia. “Ainda estou na fase de tentar digerir que a culpa não foi minha. Eu só quero viver a vida que eu tinha antes”, lamenta.
Uma semana sem banho
Outra paciente da Dra. Milena Carvalho morava em Pires do Rio (GO) à época do procedimento. *Marlene veio a Brasília para realizar uma mamoplastia com prótese, em janeiro deste ano. Ela conta que, apesar de ter seguido toda a recomendação pós-cirúrgica prescrita pela médica, os pontos da mama direita começaram a abrir poucos dias depois.
Marlene, então, viajou do município goiano – localizado a 250km da capital federal – ao Lago Sul, para refazer os pontos, no seio. Mal ela sabia que precisaria fazer o percurso toda semana, durante três meses. “Decidi me mudar para Brasília, para cuidar da minha saúde. Cheguei a vir duas vezes por semana”, disse.
A mulher desenvolveu uma infecção bacteriana, o que acabou deformando a aréola na mama direita. Quando menos esperava, a mama esquerda de Marlene, até então sem nenhuma complicação, começou a expelir seroma. Segundo ela, a avaliação da médica era sempre a mesma: “Não tem nada”. A especialista teria sugerido que a paciente deixasse o próprio organismo absorver a substância, ou que a autorizasse a retirar o líquido com uma agulha.
“Eu sentia muita dor e não conseguia dormir. Não estava conseguindo fazer nada. Tive que contratar uma funcionária para poder ajudar a gente em casa. Eu passava uma semana sem tomar banho para não molhar os pontos. Ficava deitada 24 horas por dia”, recorda.
Após 6 meses, Marlene resolveu retirar os implantes do seio, pensando que seria o fim de seu sofrimento. Porém, seis dias após a remoção das próteses, os novos pontos também estouraram. “Eu sentia como se tivesse alguma coisa andando na ferida. Ela coçava”, descreve.
Marlene foi submetida a novos exames, dessa vez com outro profissional da saúde, que pediu a realização de uma biópsia. O resultado foi a infecção da ferida pela bactéria Pseudomona, comuns em ambientes hospitalares.
Para Marlene, o maior problema da cirurgiã foi não ter se comunicado corretamente. “Ela não pediu nenhum exame para saber o que estava acontecendo”, lamenta.
O outro lado
Procurada novamente pelo Portal, a médica Milena Carvalho não quis dar entrevista e respondeu, por meio de nota, que “repudia veementemente as acusações anônimas de não ter prestado apoio pós-operatório a qualquer paciente que ela tenha atendido e diz que está abalada com as acusações anônimas e infundadas”. Confira a nota na íntegra:
“A Dra. Milena Carvalho repudia veementemente as acusações anônimas de não ter prestado apoio pós-operatório a qualquer paciente que ela tenha atendido.
A médica afirma que segue rígidos protocolos de cuidados e que acompanha seus pacientes antes, durante e depois dos procedimentos. Mesmos naqueles casos em que os pacientes não cumpriram o necessário protocolo, ela sempre esteve inteiramente à disposição para atender e solucionar qualquer situação que tenha ocorrido.
Todos os pacientes em pós-operatório são acompanhados de forma rigorosa pela médica. Já no pré-operatório todos têm acesso ao celular pessoal da Dra. e podem contatá-la dia ou noite, 7 dias por semana, 24 horas por dia. A médica fica sempre à disposição para as suas pacientes, bem como a sua equipe.
Os retornos pós-operatórios seguem um protocolo rígido e são orientados a serem realizados na sua clínica semanalmente no primeiro mês, após 3 meses, 6 meses e 1 ano, ou em qualquer outro tempo/ocasião se fizer necessário. Nos retornos são procedidas avaliações presenciais, curativos, realizadas fotografias de registro e orientações.
Somente em 2021, a médica realizou mais 200 cirurgias com absoluto zelo e profissionalismo.
A grande maioria dos pacientes está totalmente satisfeita com o resultado dos procedimentos.
Importante destacar que a médica é reconhecida, respeitada e referência para importantes publicações na imprensa sobre a temática de especialidade dela.
A médica afirma ter sido procurada por pacientes que de forma insistente tentaram fazer com que fosse realizado um acordo financeiro, mas não aceitou por não ter nada a temer, uma vez que os fatos narrados são inerentes às cirurgias e a Dra Milena prestou, durante todo o processo, atendimento às pacientes que seguiram com ela.
A médica está abalada com as acusações anônimas e infundadas e teme as consequências desse massacre midiático para sua vida, já que hoje ela se encontra grávida de 4 semanas e enfrenta uma gestação de risco.
A Dra. se coloca à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento, reforça que os fatos narrados são infundados e que não há qualquer comprovação ou condenação contra ela na justiça por irregularidade em sua conduta como médica”.
*Nomes fictícios, para preservar a identidade das vítimas